Exemplo estrangeiro: família venezuelana encontra no esporte um motivo para retomar a vida no Distrito Federal

Exemplo estrangeiro: família venezuelana encontra no esporte um motivo para retomar a vida no Distrito Federal

“Eu olhava para os lados e via centenas de pessoas como numa procissão. Todas na mesma direção e com o mesmo objetivo: fugir do caos”. É dessa maneira que o engenheiro industrial Raul Urbaneja, de 33 anos, define a entrada em Pacaraima, em Roraima, quando lembra-se de sua chegada ao Brasil há cerca de um ano e meio. Ele veio primeiro e depois trouxe a mãe musicista, a esposa formada em administração de empresas e dois filhos pequenos.

Com o programa de interiorização de pessoas refugiadas da Venezuela no Brasil, a família veio morar no Paranoá. “Assim que chegamos, matriculamos os dois na escola. Eles amam estudar aqui. Depois, veio o futebol e isso tem sido fundamental para eles”, destaca o, ainda, desempregado pai, mesmo com várias habilidades e especializações no currículo.

Angel tem 9 anos e sonha em se tornar um Messi. Diego tem 6 e sua maior preocupação é brincar de bola com os novos colegas. A dupla não perde um treino do projeto do Clube de Formação de Atletas Capital, no reformado estádio JK, no Paranoá. “Ajude seu colega, peça ajuda, não trapaceie, faça o gol, não tome gol e seja feliz. Esse é o idioma do futebol. Em qualquer língua, essas instruções são muito fáceis de serem compreendidas. Eles aprenderam rápido”, conta o professor Cleverson Souza, um dos instrutores dos mais de mil atletas do projeto totalmente gratuito.

De acordo com o pai, logo após achar a escola para as crianças, elas queriam jogar bola; mas ele e a esposa estavam à busca de um trabalho. Dias depois ele viu um ônibus com uma coruja gigantesca desenhada. Era a Nave, como é conhecido o ônibus dos atletas do Capital. Curioso, o pai foi perguntar do que se tratava e descobriu o projeto que, além do esporte, dava o uniforme e um lanche. “Não estamos acostumados a coisas de graça. Em nosso país, tudo se paga e paga-se caro. Mesmo assim fiz a matrícula dos dois e estão aqui há quase três meses”, comemora.

Torcedor do Real Madrid, Raul diz que o esporte foi jogado para escanteio em seu país. “Tínhamos um bom time de baseball, mas pouco restou. Havia grandes talentos em diversas modalidades, entre elas, o futebol; mas já não havia mais espaço para isso”, relata, ao dizer que muitos queriam mesmo era uma revolução, “mas como ir à luta se todos estão com fome e não têm o básico?”

De acordo com ele, no Brasil e, principalmente no Distrito Federal, a vida está bem melhor. Eles destacam com gratidão os programas sociais, de acolhida e de interiorização. Porém, veem no futebol, a principal chance de mudança de vida dos filhos. “Vai ser maravilhoso se eles se tornarem grandes jogadores, mas iguais a eles, milhares têm a mesma vontade. O esporte é mais que isso. É uma chance de um futuro melhor”, finaliza.

CENTRO DE FORMAÇÃO DE ATLETAS

O projeto social contempla crianças e adolescentes de 7 a 19 anos que sonham se tornar jogadores de futebol. São cerca de mil meninas e meninos de baixa renda divididas em categorias por faixas etárias, que treinam ao longo da semana no estádio JK, no Paranoá.

“Queremos sim que vários grandes talentos sejam descobertos aqui. Porém, mais que isso, nosso objetivo é dar e criar oportunidades para essas crianças e jovens. Como dizem muito por aí: ‘não é só futebol’. Certamente, é muito mais”, destaca o idealizador do projeto Godofredo Gonçalves.

O projeto já existe há quase um ano. Entre os treinadores está Manoel Miluir Macedo, experiente técnico com passagens por times do Brasil e do mundo.

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