Quando vamos para Marte?

Respondendo já de cara: não tão cedo.

Marte / Getty Images

 

Os custos necessários para construir bases e estações em outros planetas são para lá de estratosféricos (com o perdão do trocadilho). Para se ter uma ideia, a volta à lua, por meio da missão Artemis 1, custou cerca de 50 bilhões de dólares. Tanto investimento assim precisa ser justificado, nos levando ao primeiro questionamento: por que iríamos à Marte? Para responder essa pergunta, podemos elucidar unindo as duas principais linhas de resposta: Curiosidade e exploração. Curiosidade porque é natural do ser humano querer saber de onde viemos, como tudo começou e todo esse papo existencialista. E exploração, porque precisamos pagar pela brincadeira.

A Nasa não é a única agência espacial com a ideia de enviar humanos ao planeta vermelho, mas é quem tem o planejamento mais estabelecido. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, agências norte-americanas e europeias deixaram de colaborar com a Roscosmos, órgão espacial russo. Dessa maneira, os planos de enviar o rover ExoMars ao planeta, o que seria um grande passo para a nossa futura exploração em Marte, deixaram de existir e foram engavetados.

O rover, aliás, não seria o primeiro em solo marciano. Longe disso. A corrida pela exploração do planeta começou na década de 60 com a guerra fria e consequente disputa espacial entre Estados Unidos e extinta União Soviética. Os soviéticos, inclusive, deram o primeiro passo com as sondas Marsnik 1 e 2, mas elas deram errado. Em 1965, depois de algumas tentativas… Sucesso! A sonda Mariner 4, da Nasa, alcançou a órbita do planeta e enviou à terra cerca de 20 fotos da superfície marciana, as primeiras da história.

A partir daí, podemos dizer que tivemos (e ainda temos) uma relação um tanto quanto insólita com a exploração de Marte. Após alguns anos de uma tentativa aqui, outras ali e vários acidentes, finalmente um respiro. A missão Pathfinder pousou com êxito em solo vermelho (após sete tentativas!) e abriu o caminho para a exploração moderna no planeta. De lá para cá, a Agência Espacial Europeia (ESA) se uniu ao jogo, o que facilitou os estudos, pesquisas e financiamentos relacionados à exploração espacial. Além disso, houve as famosas missões Spirit e Opportunity, que enviaram dados cruciais de volta para a Terra. Mas essa fica para outro dia, porque senão, vamos facilmente ultrapassar dez parágrafos aqui. Sigamos!

Depois de um breve resumo sobre a exploração no planeta vermelho, nós podemos nos perguntar: Em que pé estamos, atualmente? É aí que fica interessante. Em fevereiro de 2021, o rover Perseverance pousou em marte após percorrer 480 milhões de quilômetros pela Via Láctea. Pouquinha coisa, né? Pior que quando se trata de locomoção espacial, isso é pouca coisa mesmo. O robô adentrou a superfície do planeta com uma velocidade de incríveis 20 mil km/h e realizou um pouso bem-sucedido. Quem acompanhou ao vivo no dia, lembra da sala cheia de cientistas empolgados e sorridentes. Afinal, seremos honestos aqui: colocar um robozinho na superfície de outro planeta não é pouca coisa não. Pelo contrário, é motivo de gritos, pulos e muito êxtase mesmo.

O rover, em sua viagem, levou consigo uma espécie de aeronave, a Ingenuity. O plano era que ela fizesse cinco voos experimentais e parasse por aí. Os cientistas riram na cara do perigo, bateram no peito e falaram: Aqui não! O pequeno “helicópterozinho” já levantou mais de 40 voos e percorreu incríveis 8 quilômetros de distância. Além de, obviamente, ter se tornado a primeira aeronave motorizada a ter levantado voo em outro planeta. O principal objetivo da missão é simples: Procurar indícios de vida antiga na superfície de Marte. Para isso, o rover possui 19 câmeras por todo o seu contorno e mais de 40 tubos para coletar amostras que serão enviadas de volta a terra. Em meados de 2033, teremos em nossas mãos, exemplares do solo marciano. Eles servirão para nos indicar a composição, condições e, de certo modo, pistas de como era Marte antigamente. Tudo isso, para que consigamos nos preparar da melhor forma para a nossa primeira visita ao planeta.

Agora que entendemos todos os entraves e problemas para chegar ao planeta, podemos partir para todos os entraves e problemas para se estabelecer no planeta. E relaxa que aqui vai ser rapidinho. A temperatura média de Marte é de -81°C  e, por mais que as máximas batam 20°C na linha de equador do planeta, fica difícil aguentar esse frio. O ar é extremamente rarefeito: equivale a altitude de 33 mil metros aqui na Terra. Dessa maneira, a água não sustenta o estado líquido e pula direto para o gasoso. Portanto, o corpo de um ser humano sem traje por lá, além de ser bombardeado por radiações maléficas, ferve por dentro.

Deu pra pegar, né? Se chegar é complicado, viver por lá então… Mas não desanimemos. Supondo que estabelecêssemos uma colônia no planeta vermelho, nós precisaríamos de energia. Eólica não rola porque não tem como levar a estrutura necessária. Hidrelétrica, não precisa nem falar. Geotérmica? Não também. Pra gerar esse tipo de energia por lá, precisaríamos cavar muito fundo. Sobrou a solar e a nuclear. Essas rolam. Vários rovers funcionaram anos no planeta por meio da energia solar. A atômica é perigosa e precisa do triplo de atenção em seu manejo, mas funciona que é uma beleza. Para se ter noção, um submarino nuclear da Marinha norte-americana, só precisa recarregar a cada 33 anos. E a água? Você, querido leitor, questiona. Calma, eu lhe respondo. No nosso mundinho hipotético tudo tem seu jeito. Marte supostamente abriga água em seus polos. Teríamos que dar um jeito de extraí-la e exportá-la para as colônias.

No fim das contas, deu para perceber, né? É problema atrás de problema e não há outra maneira a não ser pular de cabeça e tentar resolver um atrás do outro. Através de gerações nós vamos caminhar para a frente. Em 1960 orbitar o planeta parecia impossível e hoje temos um helicóptero sobrevoando dentro dele. Daqui a 50 anos, quem sabe, não estaremos por lá? O jeito é ser paciente e segurar a curiosidade. De qualquer modo, Marte vai nos esperar.

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